sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Amor e a Morte


Canção cruel

Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus músculos!

Olhos de êxtase,
Eu sonhei que em vós bebia
Melancolia
De há séculos!

Boca sôfrega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
Pétala a pétala!

Seios rígidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
Vómitos!

Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!

Pernas de estátua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pórticos!

Pés de sílfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mãos ávidas!

Corpo de ânsia,
Flor de volúpia sem lei!
Não te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.


José Régio

2 comentários:

Benno disse...

o sonho é uma morte que é vida
pois estou morto para a vida enquanto sonho
mas sonho que é vida a vida que sonho
e sonho sem vida ou a vida sem sonho é que é medonho
a vida será um sonho em que não se vive
se nesta vida que se vive não se sonhar
pois o sonho é que dá vida à vida
o sonho é que nos faz nessa vida amar
e o amor é que na vida nos faz sonhar

Anónimo disse...

amar é sonhar, caro Benno. E as mulheres merecem todo o nosso sonho!